Endesa quer concurso para reconversão de central do Pego e propõe projeto de 600 ME – Rádio Tágide

Endesa quer concurso para reconversão de central do Pego e propõe projeto de 600 ME

A Endesa, a segunda maior acionista da central de carvão do Pego, desativada a partir de novembro próximo, quer que o Governo lance novo concurso e propõe um projeto de 600 milhões de euros, adiantou o seu presidente.

Em declarações à Lusa, Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal, explicou que a empresa espanhola não se entendeu com o seu atual sócio na Tejo Energia, a TrustEnergy, para a apresentação de um projeto conjunto de substituição da central a carvão, e criticou a decisão desta entidade em avançar com uma reconversão baseada na biomassa.

“Desenhámos um conceito baseado em três pilares”, indicou, apontando para a “geração renovável com base em fotovoltaica”, a “acumulação de energia com base em séries de baterias” e o “hidrogénio verde que não só está na linha dos objetivos das políticas energéticas, como é um valor acrescentado para a região”.

Em cima da mesa, segundo informação disponibilizada pela Endesa, está um projeto de substituição da central elétrica a carvão que “inclui a construção de uma central solar fotovoltaica de 650 megawatts (MW), o desenvolvimento de 100 megawatts (MW) de capacidade de armazenamento com baterias e a instalação de um eletrolisador com capacidade de produção de 1.500 toneladas/ano de hidrogénio verde”.

“Estamos cientes é que este conceito foi adotado pelo nosso sócio com um investimento de centenas de milhões de euros [900 milhões de euros] e nós prevemos que o nosso sejam 600 milhões de euros”, disse Nuno Ribeiro da Silva.

A TrustEnergy, um consórcio constituído pelos franceses da Engie e os japoneses da Marubeni, que detém 56% da central do Pego (a Endesa controla 44%) divulgou, no dia 17 de maio, um projeto de 900 milhões de euros.

A conversão da central a carvão do Pego para resíduos florestais locais, segundo o sócio da Endesa, é a “solução a curto prazo para abastecimento do sistema elétrico português com energia renovável despachável” (que pode funcionar quando for necessário independentemente das condições climatéricas), e “até que soluções alternativas para a adequada integração de fontes renováveis intermitentes sejam implementadas”, sendo que o modelo funcional preconizado irá incluir a utilização de outras fontes de energia de forma faseada, indicou a entidade.

Nuno Ribeiro da Silva disse que a Endesa apresentou o seu projeto “no âmbito das conversas com o sócio”, sendo que este “tem outro conceito, essencialmente baseado na reconversão daquela central, que é grande, para queima de biomassa”.

No entanto, o gestor alerta que “há uma escassez de biomassa para alimentar um `dragão` daquele tamanho” e que, por isso, a central iria “comprar um problema enorme com vários setores industriais”, recordando que muitos deles são clientes da empresa.

“Íamos arranjar um `problemão` porque há escassez de biomassa para fileiras industriais que têm mais valor acrescentado, como o papel, móveis, construção civil. Não há biomassa para uma central desta dimensão”, salientou, acrescentando que “a biomassa nomeadamente para centrais de grande escala está a ser posta em causa” na sua classificação de neutra em dióxido de carbono (CO2) em Bruxelas.

Para o gestor, deve pensar-se “numa reconversão de uma instalação para 20 ou 25 anos com base numa tecnologia que é de futuro” e não numa “posta em causa sobre a sua neutralidade carbónica”. 

Nuno Ribeiro da Silva disse ainda que a Endesa e a TustEnergy andaram a discutir o projeto uma “série de tempo” e não chegaram “a uma convergência de ideias”.

“Não queremos estar a criar qualquer tipo de entrave de conflitualidade ou de complicação”, disse, realçando que se há “a oportunidade de fazer uma reconversão de uma tecnologia que está a acabar para uma tecnologia de futuro, não vamos fazer uma coxa, subsídiodependente” defendeu.

“Não chegamos a um acordo e nesse sentido temos falado com o Governo. Fizemos os maiores esforços e claramente estamos com visões diferentes do futuro. Face a isto penso que o que vai acontecer é o Governo pegar naquele ponto de ligação de cerca de 600 MW e colocar a concurso aberto. E nós lá estaremos”, garantiu Nuno Ribeiro da Silva, indicando que a Endesa irá avançar com o seu projeto individual.

Questionado sobre a possibilidade de Endesa vender a sua participação na central, o gestor reconheceu que “houve alguma abordagem, mas em condições que francamente não interessaram”.

“Estamos convencidos que temos um projeto melhor e mais experiência em lidar com estas situações” do que outros ‘players’, rematou.

 

Lusa

Fonte da notícia: Jornal de Abrantes