Barquinha: Homenagem ao Investigador António Luís Roldão no 185.º aniversário do concelho (C/ÁUDIO E FOTOS) – Rádio Tágide

Barquinha: Homenagem ao Investigador António Luís Roldão no 185.º aniversário do concelho (C/ÁUDIO E FOTOS)

Investigador incansável ao longo de mais de cinco décadas, António Luís Roldão é autor de inúmeras publicações, entre livros e artigos em publicações periódicas, dedicadas à história do concelho de Vila Nova da Barquinha. Foi neste contexto, que a Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha aprovou, por unanimidade, a proposta para que o Arquivo Municipal se passasse a designar como Arquivo Municipal António Luís Roldão.

E a data escolhida para esta homenagem ao investigador não poderia estar mais carregada de simbolismo pois foi no dia do 185.º aniversário da criação do concelho de Vila Nova da Barquinha, ou seja, 6 de novembro de 2021.

Eram 09:30 da manhã quando arrancou a cerimónia com “a presença Rainha D.ª Maria II que sempre muito sorridente fez as honras da cerimónia de inauguração de um equipamento que pretende preservar os documentos do concelho”.

Antes do descerramento da placa com o novo nome do arquivo barquinhense foi entregue uma medalha ao investigador agraciado que ouviu ainda três jovens do concelho a dizer três poemas da sua autoria e que vão integrar o livro “Ritornelo” a sair no início do próximo ano.

Mas coube a Fernando Freire, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, começar por ressalvar o trabalho do investigador: “Sabemos que muito falta por narrar e dar a conhecer desta terra banhada pelo rio Tejo, essa via civilizacional que, ora em correria, ora em mansidão, nos acompanha na longa jornada de séculos.

Com as suas pesquisas neste arquivo, em Santarém e Lisboa, que lhe queimaram as pestanas e anos de vida estamos cientes que muita da nossa história local foi feita, e bem-feita!”

Fernando Freire, também ele um apaixonado pela investigação da história local, destacou alguns dos trabalhos que António Luís Roldão tratou ao longo da sua vida. “A investigação de estruturas de longa duração inscritas na natureza (as visitas régias, o convento do Loreto, os estrangeiros do Entroncamento, histórias e memórias da Moita e da Atalaia, figuras impares como Carlos Barral Filipe, os forais, os marcos, a estrada de neveiros, os relógios, as varandas, o chafariz, NS Reclamador, os inventários, os expostos, as ruas, os cais, as quintas; As paisagens materiais: o casal Iria Teresa; o Pedregoso, o Soveral da Lameira, os Torroais, etc. etc.”

E foi em relação a estes dois últimos locais [Soveral da Lameira, os Torroais] que Fernando Freire brincou, na presença, da Rainha D.ª Maria II ao dizer que “estes 2 últimos lugares, já extintos, foram sujeitos a visita obrigatória com o regedor do reino imposta por convite irrecusável do Cronista Mor! Uma bela manhã, de cumplicidade, Sr. Roldão!”

Fernando Freire vincou ainda o agradecimento, como autarca, ao investigador quando disse “desviando a névoa das coisas, procurando a claridade, somos justos quanto sabemos agradecer aqueles que tanto nos dão”.

Fernando Freire, presidente CM Barquinha

António Luís Roldão fez questão de falar aos presentes referindo desde logo aquela que foi a sua paixão pela investigação e pela terra. E começou logo por uma curiosidade em relação ao edifício que tinha atrás de si, agora pintado em tons bordeaux. “Este edifício que aqui está (…) foi o primeiro sitio onde se matavam os animais, sobretudo os porcos, e aqui se recolhiam e retalhavam para venda. Poucos de devem lembrar desta particularidade.

O investigador disse que foi, porventura, o primeiro querer um arquivo municipal e explicou de seguida que trabalhava para a Câmara Municipal e no sótão dos serviços encontrou uma série de livros diversos que estariam amontoados. E teve o cuidado de os organizar todos. Mais tarde, disse, no Centro Cultural também foram encontrados livros diversos que ele próprio inventariou e catalogou. “Foi com uma pá carregadora que trouxeram os livros para aqui e os descarregaram como lixo. Como se fosse simples lixo. Era um atentado contra a cultura e contra o passado desta terra”.

António Luís Roldão revelou que depois houve uma equipa nomeada para fazer o trabalho que agora “aqui está. É um trabalho notável.”

O investigador lembrou que “ia atrevidamente aos arquivos”, de tal forma que no de Santarém, os funcionários já o conheciam e manifestavam logo a vontade de o ajudar a ir buscar os que precisava.

“Ninguém me pagou. Ninguém me obrigou. Era [a investigação] uma necessidade muito minha. E fui buscar muitos documentos para a Barquinha. Felizmente hoje [o arquivo] funciona como deve ser”, numa referência ao serviço que, agora, ali funciona.

António Luís Roldão

O investigador da história local e poeta

António Luís Roldão, nascido a 19 de novembro de 1934, na Rua da Barca, em Vila Nova da Barquinha, é poeta, músico, jornalista, associativista, autarca e investigador da história local. Muitas são as suas facetas. No jornalismo, foi um dos impulsionadores do jornal “Folha Paroquial”, nos anos 60, que mais tarde deu origem ao “Novo Almourol”, publicação com a qual ainda hoje colabora, chegando a desempenhar o cargo de subdiretor. Na vida associativa, desempenhou cargos na Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova da Barquinha, Sporting Clube Barquinhense, Clube União de Recreios de Moita do Norte, Santa Casa da Misericórdia e Paróquia de Vila Nova da Barquinha. Como músico filarmónico, pertenceu durante 50 anos à Banda de Música dos Bombeiros da Barquinha. Na poesia, publicou três livros de sua autoria, participou em duas publicações coletivas editadas pela Câmara Municipal, a ainda no CD “Barquinha, Poesia e Fado”, outra iniciativa da autarquia.

O resultado da imensa dedicação à investigação da história local de Vila Nova da Barquinha, um trabalho ímpar, publicado ao longo dos últimos anos no jornal “Novo Almourol”, foi também publicado em livro, nos dois volumes de “Barquinha, Crónicas Históricas”, editados em 2014 e 2020 pela Câmara Municipal.

Para além da investigação e da história e tradições locais, António Luís Roldão em também uma presença na poesia. De tal forma que a Câmara Municipal irá editar, no início de 2022 o livro “Ritornelo”. Trata-se de uma obra de poesia de António Luís Roldão e terá ilustração da pintora Isabel Fescrata (Isafre).

Um novo serviço que junta o acervo histórico da autarquia

Verdadeira memória histórica do município, o Arquivo Municipal é constituído por fundos documentais de natureza administrativa e histórica, particularmente ricos, sobretudo para o período posterior a meados do século XIX, procedentes dos diferentes serviços municipais. Tem como principais objetivos, preservar e conservar a documentação, qualificar e valorizar o seu espólio e divulgar a história local.
O Arquivo Municipal de Vila Nova da Barquinha ocupa o espaço de um antigo edifício municipal existente na Rua de Cabo Verde. Com dois pisos, está dotado de sala de leitura, sala de tratamento de classificação documental, atendimento e área para depósito da documentação.

Neste dia da inauguração pode perceber-se que há muito trabalho pela frente, embora grande parte do acervo esteja já a começar a ser separado e, depois, catalogado, antes de “subir” ao primeiro piso para ser “guardado” nos “gavetões” certos para consulta futura. A criação deste equipamento é fruto de um acordo de colaboração celebrado entre o Município de Vila Nova da Barquinha e o Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo, no âmbito do Programa de Apoio à Rede de Arquivos Municipais (PARAM).

O Arquivo Municipal tem como missão promover o acesso dos serviços camarários e do público em geral à documentação que tem à sua guarda. Estes documentos foram produzidos e recebidos pela Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha e constituem a memória do concelho. E de notar que alguns deles são, só por si, curiosidades absolutas de outros tempos. Alguns nem são muito longínquos, mas parecem fazer já parte de um passado muito distante, tal a evolução tecnológica dos últimos 30 anos.

“Rainha D.ª Maria II” 

O concelho de Vila Nova da Barquinha assinalou este sábado, dia 6 de novembro, os seus 185 anos. Foi a 6 de novembro de 1836 que a rainha D.ª Maria II assinou um decreto que criava o concelho de Vila Nova da Barquinha, composto pelos extintos concelhos de Atalaia, Paio de Pele e Tancos.

Fonte da notícia: Jornal de Abrantes